Arquitetura e Património Vernacular
As 16 casas nobres/senhoriais, algumas delas sucedâneas das primeiras iniciativas de povoamento da região, persistências possantes da Idade Média, pontoam o território com uma frequência invulgar, enumerando-se: a Casa da Bouça; Casa da Porta; Casa de Alentém; Casa de Barreiros; Casa de Cunhas; Casa de Juste; Casa de Pereiras; Casa de Quintãs; Casa de Ronfe; Casa de Vilar; Casa do Porto; Casa do Rio; Casa Grande de Vilela; Quinta da Torre; Quinta de Santo Ovídeo e Quinta de Vila Verde.
Ainda no plano da arquitetura civil, as pontes, estruturas profundamente associadas à história e evolução do concelho, definiam os principais itinerários da região, permitindo a transposição de cursos fluviais, que, por sua vez, marcaram antigos e perduráveis limites político-administrativos.
Os 122 moinhos de rodízio, apesar de evidenciarem uma construção simples e com recurso a materiais comuns, compreendem uma tecnologia milenar e evoluída. Especialmente relacionados com os cursos de água e com a gestão pública da água, estes engenhos aproveitavam a energia hidráulica de forma sustentável e renovável. Associadas aos moinhos coexistiam estruturas complexas de captação, elevação e condução de água para movimentar os engenhos e para a rega dos campos.
Os edifícios religiosos constituem outra marca durável das realizações e motivações dos povos, na sua vertente mais espiritual. As igrejas, como centros congregadores da comunidade de fiéis, perduram como registos e representações de conjunturas passadas. A Igreja de São Lourenço de Pias com o seu magnífico retábulo joanino, a Igreja de São Vicente de Boim com a sua invulgar planta ou a Igreja de São Miguel e os seus intrigantes modilhões. Seria exaustivo citá-las todas, mas cada uma delas reúne peculiaridades que sugerem a sua descoberta.
As ermidas conservam as devoções de carácter mais popular, assumindo-se, por norma, como templos pobres, dotados de parcos recursos para a sua subsistência. As capelas, hoje ditas particulares, mas outrora públicas, enquadram-se numa perspetiva sociocultural e religiosa diversa, em que predominavam devoções e comodidades familiares e vicinais. A sua localização não era arbitrária e permite perceber aspetos da organização antiga do território.
As 16 alminhas e os 4 cruzeiros existentes na paisagem protegida são outros elementos patrimoniais de forte carga simbólica, suscitam na atualidade devoção de cariz mais popular da comunidade. A designação “Alminhas” reporta a um painel figurativo associado ao culto das Almas do Purgatório, nos quais, muitas vezes, se podem ler mensagens piedosas e que requerem, aos que passam, uma oração e uma moeda para sufrágio da alma e da memória dos defuntos. Os cruzeiros são os elementos mais vulgares do património cultural material, erguidos mediante a determinação das autoridades eclesiásticas ou por iniciativa de comunidades, associações de fiéis ou particulares, os cruzeiros povoam as paróquias portuguesas, afirmando a identidade e a vitalidade religiosa da população, assim como a sua predominante espiritualidade de base cristã.
Leituras complementares:
AAVV (2021) – Moinhos de Água: paisagem, território e património. Lousada: Câmara Municipal.
VIEIRA, S. (2020) – “Pequenos templos, grandes devoções: alminhas e cruzeiros no concelho de Lousada”. Oppidum – Revista de Arqueologia, História e Património. Ano 14, n.º 12. Lousada: Câmara Municipal.
AAVV (2021) – Jardins com História. Flora e Património dos Solares de Lousada. Lousada: Câmara Municipal.